O Melhoramento Genético de Plantas trabalhando para a Nutrição e a Atratividade dos Alimentos
Por Patricia Ritschel, Melhorista, Embrapa Uva e Vinho
É senso comum que uma alimentação saudável deve incluir frutas e hortaliças. Este "conhecimento popular" vem sendo cada vez mais corroborado por estudos científicos, através da associação entre uma dieta rica em frutas e hortaliças e a prevenção de doenças como as cardiovasculares e vários tipos de câncer. Nos últimos anos, tem-se observado que a evolução do conhecimento nas áreas de nutrição, medicina, bioquímica e metabolismo, entre outras, vem exercendo um efeito direto no estilo de vida e nos hábitos alimentares da população em geral, não somente através da modificação, mas também através da criação de novos conceitos. A própria definição de saúde, por exemplo, foi ampliada, e hoje não se restringe à "ausência de doenças", mas inclui também o bem-estar físico, mental e psicológico. O alimento vem sendo reconhecido como um elemento-chave para a qualidade de vida. O conceito de funcionalidade dos alimentos originou-se no Japão e mais recentemente vem sendo disseminado pelo mundo ocidental. Sob este ponto de vista, os alimentos e seus componentes tem a capacidade de influenciar as funções corporais de maneira benéfica, auxiliando o bem-estar, a saúde e reduzindo o risco de doenças.
Alguns exemplos de componentes funcionais dos alimentos são as fibras contidas em cereais e os ácidos graxos de nozes e castanhas em geral, e também em peixes, como o salmão. Os benefícios potenciais destes alimentos estão relacionados com a redução do risco de doenças coronárias e de alguns tipos de câncer, com a manutenção adequada do trato digestivo, do sistema imune, dos níveis de glicose no sangue e de funções mentais e visuais.
Pigmentos vegetais como componentes de uma dieta saudável
O papel dos pigmentos vegetais como os carotenóides e antocianinas sempre foi associado com a atração visual, mas hoje em dia sabe-se também que estes compostos estão relacionados com a funcionalidade dos alimentos, o que tem despertado grande interesse dos pesquisadores. A presença de compostos do grupo dos carotenos, como beta-caroteno e licopeno, resulta na cor laranja ou vermelha de frutas e vegetais, como cenouras, abóboras e tomate. Outros exemplos de carotenóides são a luteína e a zeaxantina, presentes no espinafre, na laranja e no milho. A inclusão destas substâncias na dieta vem sendo relacionada com a manutenção de funções visuais e com a saúde da próstata. Por outro lado, as antocianinas são os pigmentos que resultam na coloração arroxeada ou azulada de frutas como a uva, o mirtilo e a amora. Juntamente com compostos denominados "flavanóis", "flavonóis", "flavanonas" e "proantocianidinas", as antocianinas formam um grupo de substâncias conhecidas como flavonóides, cujo consumo está relacionado com a manutenção das funções cerebrais, com a saúde do coração e do trato urinário.
Pelo menos parte dos benefícios de carotenóides e flavonóides para a saúde parece estar associada com os chamados "radicais livres", que são compostos liberados durante o metabolismo de seres vivos e envolvidos no envelhecimento de tecidos e células. Os pigmentos vegetais apresentam uma ação antioxidante, que parece neutralizar os radicais livres e impedir que os mesmos danifiquem as células, contribuindo assim para o retardamento do envelhecimento e do surgimento de doenças crônicas.
Melhoramento Genético de Plantas: cor dos alimentos e Nutrição
Desde o início da civilização, o homem tem ajustado os atributos e características das plantas às sua necessidades, através do melhoramento genético. O principal enfoque da agricultura moderna e dos programas de melhoramento de plantas têm sido o aumento da produção, em função do rápido crescimento da população mundial. Esta meta tem sido atingida através da seleção de materiais que apresentem atributos relacionados a uma produtividade maior, tais como resistência às principais doenças e maior número de frutos grandes ou de grãos, entre outras.
Entretanto, o estabelecimento e a disseminação do conceito de alimentos funcionais vêm provocando modificações também no direcionamento dos objetivos dos programas de melhoramento genético. A variação no conteúdo de compostos benéficos para a saúde, observada na natureza, permite a seleção e o desenvolvimento de variedades de hortaliças e frutas com teor maior destes compostos. Assim, é possível, por exemplo, a seleção e o desenvolvimento de variedades de cenouras ou tomates que apresentem cores mais intensas, indicando um maior conteúdo de pigmentos carotenóides. Pode-se pensar ainda em variedades de frutas como a uva e o morango, com maior conteúdo de substâncias antioxidantes ou de vitaminas. Assim, mais uma vez o melhoramento genético vegetal desempenha um papel importante, contribuindo também para a melhoria da saúde das populações humanas.
Patricia Ritschel, Melhorista, Embrapa Uva e Vinho
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