
Mesmo rentável, camarão gera polêmica
A espécie Litopenaeus vannamei, camarão originário do Pacífico, tem evitado que o Brasil - com seus 8,5 mil quilômetros de costa litorânea - apresente resultados desfavoráveis na balança comercial de pescados. Ainda assim, o seu cultivo adaptado às condições climáticas do Nordeste gera polêmica, retardando a expansão da atividade.
Dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex) indicam que dos US$ 217 milhões de pescados exportados entre janeiro e agosto deste ano, 52% foram com vendas do crustáceo - o percentual era de 29% em 1999. A produtividade média no Nordeste é de 8 toneladas por hectare/ano, enquanto os países com melhor desempenho não chegam a 4 toneladas por hectare/ano, segundo Sérgio Melo, gerente nacional do Programa Especial de Exportações (PEE), do Setor Pescados.
"O cultivo do vannamei está salvando a balança comercial de pescados", diz Alexandre Spinola, coordenador do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) do Ministério da Agricultura. Apesar do reconhecimento, a espécie, que proporciona rendimento de até R$ 180 mil por hectare/ano, não é considerada bem-vinda por ambientalistas preocupados com a sobrevida dos manguezais. Mesmo a tentativa em curso de levar carcinicultura para o árido sertão divide opiniões.
Impasse
Enquanto não resolve o impasse, o Brasil mantém uma inserção tímida nesse mercado. O DPA estima que as exportações do crustáceo poderiam render até U$$ 21 bilhões por ano. Em 2001, as vendas externas somaram US$ 103 milhões. Em 1998, os cultivos nacionais representavam apenas 4,2 mil hectares - na mesma época, Honduras, com 200 quilômetros de litoral, desenvolvia a carcinicultura em 12 mil hectares.
Nos últimos quatro anos, a área de cultivo aumentou. Hoje é estimada em 10 mil hectares, distribuídos em 507 fazendas no Nordeste. Mas a produção poderia estar numa patamar mais elevado, se houvesse uma legislação nacional específica para o setor. Há mais de dois anos, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) tenta aprovar uma resolução para unificar a regulamentação da carcinicultura em vários estados.
"Cerca de 500 projetos aguardam, há mais de um ano, o licenciamento ambiental", afirma Melo. Esses investimentos poderiam incorporar mais 10 mil hectares de cultivos no Nordeste, que reponde por cerca de 97% da atividade no País.
Além de render mais divisas, a atividade é considerada relevante para a geração de empregos. O custo de criação de cada posto de trabalho na carcinicultura é estimado em U$$ 13,88 mil, ante US$ 66 mil no setor de turismo ou US$ 91 mil na indústria automobilística. O mercado também é considerado estimulante. Em 2001, por exemplo, o Brasil exportou metade da produção para os Estados Unidos, mas o volume correspondeu a 2,32% dos US$ 3,63 bilhões das compras norte-americanas.
Ambientalistas
As perspectivas de mercado e a geração de emprego e renda, entretanto, não seduzem os ambientalistas. Eles alegam que a carcinicultura pede em troca um preço ainda maior, representado pela ameaça aos manguezais - considerados o segundo ecossistema mais em rico em biodiversidade do planeta. "O manguezal só perde em importância para os bancos de corais", diz Alberto Alves Campos, diretor-presidente da ONG Aquasis.
Campos, porém, não condena a tendência recente de instalar cultivos de camarão em áreas distantes dos estuários marinhos - experiência que vem se disseminando rápido, especialmente no Ceará e Rio Grande do Norte. "O consórcio de carcinicultura com a criação de tilápia e a fruticultura irrigada pode ser uma opção para essas regiões."
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